QUANDO O CASAMENTO DESCAMBA

Casamento, depois de anos, resseca, fica insosso,

o que era gostoso, vira desatino, vira tralha, vira ressaca, enferruja,

vira maçante toada.

Por mais suores perfumados vividos,

por mais sussurros safados espalhados,

por mais lençóis tatuados de paixão cerzidos.

A rotina, as mesmices. a falta de molecagens,

o sumiço das surpresas, os encardidos no querer-bem,

o mesmo reflexo no espelho, os mesmos cheiros, as mesmas texturas,

tudo contribui pro gostoso ir pro beleléu ladeira abaixo,

tudo ajuda pro tesão coalhar, fazer as malas e virar pó.

O tédio passa a reinar incólume,

corpos evitam se tocar, se olhar, se ungir de novo,

fogem um do outro com medo de se contaminar, de sei-lá-o quê.

Vão, então, se desgarrando numa deriva atroz,

até algum avistar outro porto aquecido num canto qualquer,

e decidir se embrenhar com sua trouxa, seus penduricalhos

e sua história, feliz toda vida.

 

 

 

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 25/12/2022
Reeditado em 26/12/2022
Código do texto: T7679668
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