TORPOR AFLITO
Querer-bem que gosto tem?
Talvez de um catavento solitário à espreita do canto aquecido,
talvez de um beijo desgarrado da multidão,
talvez do aceno do dia à afronta da manhã.
Querer-bem despreza cabrestos, métricas e festins,
é fado conciso, réstia domada, vão esgueirado,
torpor aflito, desmantelado e senil.
Querer-bem tem ramas arguidas, sorrateiras,
passos acurados, soturnos, abruptos,
réstias aguçadas, amenas e só.
É rastro atento, poro dedicado,
de têmporas convictas, alvissareiras,
loucas pra ungir no vazio, no entender quieto.
Querer-bem coaduna surradas pelejas,
traz no cangote réstias da paixão,
esvai, decidido, rumo ao nada, ao tudo,
rumo à entonação de Deus,
à corredeira mais linda, mais mãe.
Querer-bem é arteiro respingo,
assoreado nervo pulsando a mil,
torpor embebido do melhor de mim,
afrontado porão do gozo no talvez.