TORPOR AFLITO

Querer-bem que gosto tem?

Talvez de um catavento solitário à espreita do canto aquecido,

talvez de um beijo desgarrado da multidão,

talvez do aceno do dia à afronta da manhã.

Querer-bem despreza cabrestos, métricas e festins,

é fado conciso, réstia domada, vão esgueirado,

torpor aflito, desmantelado e senil.

Querer-bem tem ramas arguidas, sorrateiras,

passos acurados, soturnos, abruptos,

réstias aguçadas, amenas e só.

É rastro atento, poro dedicado,

de têmporas convictas, alvissareiras,

loucas pra ungir no vazio, no entender quieto.

Querer-bem coaduna surradas pelejas,

traz no cangote réstias da paixão,

esvai, decidido, rumo ao nada, ao tudo,

rumo à entonação de Deus,

à corredeira mais linda, mais mãe.

Querer-bem é arteiro respingo,

assoreado nervo pulsando a mil,

torpor embebido do melhor de mim,

afrontado porão do gozo no talvez.

 

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 28/12/2022
Código do texto: T7681142
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.