NOITES SEM FIM (a casa e a escuridão)

No tempo

em que a

voz uterina

nos puxava

pelos cabelos,

entrávamos

descabelados,

encabulados,

pela falta dum sorriso

de estrela.

A noite

nos negava

o brilho,

seduzia-nos

só pela escuridão,

para não percebermos

suas nebulosas intenções.

Penetrávamos

na recinto,

apenas de corpo,

a casa nunca habitava

em nós,

a alma ficava

dependurada

na rua da lua,

balançando-se

em devaneios,

a espera do reencontro

com seu invólucro,

como um faraó inerte

em sua pirâmide mortuária.

Quando o alimento

cumpria sua missão,

havia o balbucio

de uma cantiga de ninar.

A voz e a noz,

cada qual nutriam

o sonho e o sonhador.

A noite se esgotava

em suas urgências,

a alma fora levada

para algum outro

hemisférico lugar.

Na primeira manhã,

ansiosos ficávamos,

olhando o globo girar,

como um pião

em rodopios,

riscando a superfície

áspera da espera.

Era uma infinidade de horas,

a casa continuava

incólume,

um bêbado adormecido

sem o exercício da embriaguez.

Ela bem que tentava,

mas nossa porta estava aberta apenas

para a noite ...

e a alma desgarrada.

Foram tantas noites...

Não ouvíamos mais aquela voz,

foi ao encontro

de alguma constelação

cuidar dos anímicos desavisos.

Quem quebraria, agora,

aquela noz!?

Do manto escuro,

restaram os negrores,

nossos temores

e aquele arrependimento

tardio

de nunca ter acolhido a casa,

tampouco recolhido os seus viventes.

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 28/12/2022
Código do texto: T7681155
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