SER JARDIM
Às lacerações
vou-me costurando,
enquanto
procuro
outras agulhas
longe dos meus palheiros.
Sei que ficarão
cicatrizes,
como penumbra
no meio dos faróis.
As feridas
nunca se fecharão,
hão de ficar entreabertas,
fendas
a espera de alguma rosa
teimosa.
É nisso que aposto :
a resiliência dos perfumes,
a leveza das pétalas
e a contundência dos espinhos.
Não haverá dor
tão forte
que não viceje alguma semente
neste solo árido,
ao mesmo tempo
ávido
por ser jardim.