A voz da Alma

Não pretendo a tradução de todas as palavras.

E é nessa qualidade que te falo:

Toma minha lira como uma música

De arpa e flauta.

A alma é a voz.

Melodia pura

Eu te olhei como quem olha para as chagas das mãos de Jesus e a benção da ressurreição

e agora eu só vejo a maldição dos anzóis da morte me pescando para a ataúde.

Contemplar você como uma benção foi a maior blasfêmia que eu cometi. Dentre tantas flechas da aljava, eu te escolhi para ser o responsável do rasgão do meu peito obscurecido pela terrível luz do amor, ainda sim, pra tí, eu não fui a melhor, nem preferida, sempre a pior, nunca meu nome em teu corpo, música ou escrita. Sempre outros

e outros

e outros.

Para tí, eu era a doença que corroe a vida.

Câncer, não é meu signo, bem sabes disso.

Eu te amei como filho pródigo amou a herança do pai, e muito pequei, eu sei, a grande diferença é que ele conseguiu voltar para casa e foi perdoado. Eu vilã e morta que sempre fui aos olhos do mundo, através de tua boca, morri na lama, comendo das bolotas dos porcos e carregando o peso de nossas consequências.

Hoje ainda que pouco, eu sangro, ainda hoje as escoriações não cicatrizam, a úlcera se lacera,

E as vezes eu me escondo nos covis do inferno quando lateja minha ferida interna, por nem sempre consegui suprir tudo ao Deus do Sol, que no meu dicionário também é sinônimo de amor

Se soubesses o que é amar

Não te náusearia o enfadonho,

e suas palavras valor teria.

Na história sem prefácio, que sustenta apenas um lado

A do pobre enforcado

e eu carregando sem peso minha vilania

Sigo meu propósito desconexo,

Projeto as estrelas no papel,

Mas tu não entendes que a dor mais cruel

É a da tua covardia

A rima poderia ser a solução

Mas não é o no papel que se resolve.

Se fosse tão homem, sob o mar andarias.

O coração berra,

Vê bem mas não vê tudo:

Quem ousa sempre alcança.

Tu que não atendes por nome de Eros,

Chamo-te de qualquer nome.

Pode ser lua e nem quero saber a fase.

Antes que me fales digo-te que tudo é

Possível.

Desarmo o circo

Diante do meu leão soprano,

Recolho meus dós,

Como maestro olho a partitura

E com gestos e olhares e lágrimas de suor

Irei provar que o que dá para chorar

Dá para sorrir.

Poema escrito em Outubro de 2022.

Fabiana Alves
Enviado por Fabiana Alves em 15/01/2023
Código do texto: T7695266
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