ESTAÇÕES

Vejo rostos, eles estão dos lados, espalhados

nos viveiros dos desníveis das calçadas tortas,

lá no lençol molhado e na tinta que se descola

da parede cansada de tanta demão e brochas,

pois em todos os lugares onde o tempo passa,

tudo ao redor, inevitavelmente, um dia acaba.

E dentro das mós pesadas da rotina, as horas

trituram o ar do vapor alto… São treze e nove

do domingo: verão no corpo e inverno na alma.

Há a harpia na ardósia do morro e sua bocarra

na direção ameaçadora das minhas palavras…

Agora, noto um tipo de colagem na luz oposta

que incide no muro descascado da outra casa,

e ela fala, no dialeto das lascas, que a derrota

é um latifúndio, e sou eu o dono do seu espólio.

Continuou: que meu verso nunca esperou nada

de mim e, dele, que eu só aguarde o fracasso,

e muitos arquivos brancos no drive — inócuos.

E por último, chamou dois ventos bem rápidos

que viraram a folha, feito se fosse uma página

(subiu ainda mais a cortina claríssima da tarde

e nublou a linha da cúpula com seu calor forte).

Às quatorze, faz quarenta graus aqui na sacada.

Às quatorze, a vida é bem menor do que a morte.