ANCESTRALIDADE

Eles vieram de longe,

onde a vida ainda

não resolvera se assentar.

Na trilha dos leões,

peregrinaram

entre feras e feridas.

Os pés descalços

tingidos

de um vermelho dourado,

salpicados de areia,

que entranhava nas veias

e vilas por onde passavam.

Vieram com a poeira,

e para o pó voltariam.

Entoavam cantos uterinos,

para lhes dar substância,

embora o desígnio

não lhe cobrasse o preço de vozes,

apenas o apreço pelo silêncio.

O sol,

em abundante inclemência,

os regava de suores,

a derreter os caminhos

marcados de lonjuras e espinhos.

Foram muitos dias...

Até que chegaram,

juntos,

todos eles.

Várias tribos,

um único ritual.

Abraçaram-se,

nômades e sedentários,

trocaram mutuamente suas estórias

de sobrevivência.

Partilharam

das comidas

que pareciam ter iminente fim,

mas a resiliência

as faziam infinitas.

Depois caminharam,

cabisbaixos,

revezando-se

numa mudez

ruidosa.

Ao chegarem

ao pó,

pegaram os ossos,

dançaram com os esqueletos,

beijaram a terra

e idolatraram suas sementes.

Repetiam isso todos os anos,

desaguando lágrimas

no estuário de cada saudade.

E assim fizeram,

a comunhão

passado-presente

até a exaustão.

Naquele momento

era tão só ancestralidade...

As múltiplas tribos,

perceberam uníssono

que o mundo

se transformara

numa única aldeia.

Por fim,

olharam-se

e sorriram-se

em suas dores e resignações.

Evocando as dinvidades,

por elas e para elas,

haveriam sempre

de se lembrar

que antes de tudo,

todos ali

eram eternamente irmãos.

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 25/01/2023
Código do texto: T7703575
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