o lobo

estas unhas que te arrancam

os espinhos mais profundos

– espinhos mortais –

são para te acalmar.

esta boca cruel que te morde

aumentando ainda mais tua dor

– meu amor, eu já tenho que doer –

são para saciar tua fome.

estes braços,

estas mãos que te prendem

– que ardem –

são para que andemos juntos:

de mãos dadas...

16/06/2011

* * *

baseado em:

“Pois logo a mim, tão cheia de garras e sonhos, coubera arrancar de seu coração a flecha farpada. De chofre explicava-se para que eu nascera com mão dura, e para que eu nascera sem nojo da dor. Para que te servem essas unhas longas? Para te arranhar de morte e para arrancar os teus espinhos mortais, responde o lobo do homem. Para que te serve essa cruel boca de fome? Para te morder e para soprar a fim de que eu não te doa demais, meu amor, já que tenho que te doer, eu sou o lobo inevitável pois a vida me foi dada. Para que te servem essas mãos que ardem e prendem? Para ficarmos de mãos dadas, pois preciso tanto, tanto, tanto - uivaram os lobos e olharam intimidados as próprias garras antes de se aconchegarem um no outro para amar e dormir”. (Trecho do conto 'Os desastres de Sofia', in "Felicidade Clandestina" – Clarice Lispector).

Kauana Costa
Enviado por Kauana Costa em 26/01/2023
Reeditado em 26/01/2023
Código do texto: T7704698
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