Abismo

Ela está parada

Encarando um abismo a sua frente

E se perguntando

Qual a melhor hora de pular

Ela não quer incomodar ninguém

Mas não pode mais voltar

Nem ver além

Se pensar bem

Ela nunca teve escolha

Antes mesmo de chegar a sonhar com algo

Esse algo se desfazia em sua boca

E arremessava a verdade em sua cara

Ela nunca teve nada

Nem objetos, nem pessoas e nem sentimentos

Os objetos eram sempre usados

Quebrados, emprestados e não duravam

As pessoas não ficavam muito tempo também

E os sentimentos?

Ela aprendeu a viver sem

Se pensar bem

Ela nunca teve chance

De viver como queria

Atirada a própria sorte

Esbarrou com a poesia

No seu estado mais cruel

Somente a Morte entendia

A morte das palavras que ouvia

Sentia a força de um abraço

No silêncio de um traço de agonia

Procurou um espaço seguro

Nos pensamentos de outro alguém

Se pensar bem

Ela nunca teve casa

Nem alicerces e nem cercas

Nunca teve medo de pular

Mesmo assim

Ela está parada, frente a um abismo

Torcendo para o impossível

Tirá-la de lá

Grécia
Enviado por Grécia em 27/01/2023
Código do texto: T7704899
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