Heranças
Do meu pai, eu sou a pressa e o fogo que veio buscar, sou a lembrança e a saudade, sou aquele olhar escondido que ainda não soube entender, sou a tristeza da falta, sou o nome que deixou.
Da minha mãe, quietude, bonança e bem querer. Sou também aquela lágrima que um dia vi rolar.
Do meu pai, sou alegria e o prazer de receber, sou a palavra franca, sou a mão estendida, sou música em altos tons, sou criança, sou a festa.
Da minha mãe, sou o carinho, cuidado e preparação, sou o zelo, sou exemplo, sou a chama da vela, o pedido e a devoção.
Do meu pai, eu sou Radetzky, sou a marcha e a marcação, sou o sopro dos metais, sou um certo barbeiro espanhol que gostava de assoviar.
Da minha mãe, sou Barcarola no remanso a navegar, o meu sangue é Vienense, sou violino a solar.
Do meu pai, eu sou a roça, sou a horta que vi plantar, sou torresmo, sou quiabo e angu pra combinar, do milho eu sou espiga, sou o bolo de fubá.
Da minha mãe, sou o figo, eu sou a calda do doce, sou o café bem quentinho, sou quitanda, sou a goma do biscoito.
Do meu pai, sou linha reta, sou a palavra direta, sou o ponto final.
Da minha mãe, sou poeta, sou a rima dos seus versos, sou o conto de uma estória.
Do meu pai, sou montaria, sou a solidão da estrada, sou a lama, sou o pó. Sou aquela mata fechada, sou eco da passarada, sou o trote do animal.
Sou a chuva e o suor. Sou o raio que desponta, sou o clarão na estrada, sou o dever cumprido sou o cansaço do corpo.
Da minha mãe, sou a árvore, sou a sombra e a parada, sou a água do regato, sou a luz da lamparina, sou a cama e o repouso.
Do jardim, que eu seja a terra que as flores vai fecundar.
Do caminho, que eu tire as pedras para o meu irmão passar.
Da vida, eu vi um anjo ao nascer me abençoar !
Renato Paes
Maio 2006
Do meu pai, eu sou a pressa e o fogo que veio buscar, sou a lembrança e a saudade, sou aquele olhar escondido que ainda não soube entender, sou a tristeza da falta, sou o nome que deixou.
Da minha mãe, quietude, bonança e bem querer. Sou também aquela lágrima que um dia vi rolar.
Do meu pai, sou alegria e o prazer de receber, sou a palavra franca, sou a mão estendida, sou música em altos tons, sou criança, sou a festa.
Da minha mãe, sou o carinho, cuidado e preparação, sou o zelo, sou exemplo, sou a chama da vela, o pedido e a devoção.
Do meu pai, eu sou Radetzky, sou a marcha e a marcação, sou o sopro dos metais, sou um certo barbeiro espanhol que gostava de assoviar.
Da minha mãe, sou Barcarola no remanso a navegar, o meu sangue é Vienense, sou violino a solar.
Do meu pai, eu sou a roça, sou a horta que vi plantar, sou torresmo, sou quiabo e angu pra combinar, do milho eu sou espiga, sou o bolo de fubá.
Da minha mãe, sou o figo, eu sou a calda do doce, sou o café bem quentinho, sou quitanda, sou a goma do biscoito.
Do meu pai, sou linha reta, sou a palavra direta, sou o ponto final.
Da minha mãe, sou poeta, sou a rima dos seus versos, sou o conto de uma estória.
Do meu pai, sou montaria, sou a solidão da estrada, sou a lama, sou o pó. Sou aquela mata fechada, sou eco da passarada, sou o trote do animal.
Sou a chuva e o suor. Sou o raio que desponta, sou o clarão na estrada, sou o dever cumprido sou o cansaço do corpo.
Da minha mãe, sou a árvore, sou a sombra e a parada, sou a água do regato, sou a luz da lamparina, sou a cama e o repouso.
Do jardim, que eu seja a terra que as flores vai fecundar.
Do caminho, que eu tire as pedras para o meu irmão passar.
Da vida, eu vi um anjo ao nascer me abençoar !
Renato Paes
Maio 2006