Ritual de espera
Na cadeira,
sentada na varanda,
dona fulana e suas rugas,
sua pele fina, seu cabelo grisalho,
torcendo para o sol aparecer.
Febril, com os dedos não ligeiros da idade,
tentando apontar além,
prisioneira do próprio corpo.
Apontar alguém que se aproxima,
sorrindo pouquinho,
tecendo dentro de si uma alegria.
Seus olhos brilhantes,
procurando a sua frente,
este alguém que se aproxima,
ruídos das folhas secas que rolam
não desesperam seu coração,
um sentimento cego...
Dona fulana toda manhã senta
em sua cadeira na varanda ou
debruça na janela.
A chuva fina faz com que ela
volte à sala,
desligar a música baixa abafada,
esta valsa do reencontro, este vinil gasto.
Amanhã, novamente se repetirá este ritual de espera,
mais um dia, mais meio século,
mais uma vez a valsa se repetirá.
Pode ser que este alguém que ela aponta
de longe, se aproxime de sua varanda.