Talvez eu lembre

Uma noite chuvosa seria mais poética.

O clima é agradável.

Eu não me lembro do que acontece antes ou depois. Uma porcaria, já que fui a única testemunha ocular.

Da vista da janela. Pela visão minha memória ela devia estar aberta, mas provavelmente nem estava. Enxergava entre os vãos .

O verona verde parado em frente de casa. Ela continua sendo minha casa, uma bênção . Cheio de coisas. Mantas, sei lá o que. A falta de filme nos vidros me permite a visão do carro abarrotado . Minha família tinha carro.

Ele vai ser vendido em breve sem aviso prévio.

Talvez eu me lembre. Mas, recordo das gavetas vazias.

Na minha cabeça, fez duas viagens. Mas, não faz sentido pq foi busca-la no trabalho. Não faz sentido algum . Não faz.

Talvez faça .

Lembro de me deitar na cama. Que não existe mais. E chorar, ou tentar chorar. Não me lembro se as lágrimas escorregaram pelo meu rosto pueril e infante.

A garota talvez chore.

A mãe chora.

Lembro do seu rosto desfigurado e vermelho entrando pela sala .

Só lembro disso.

Nada de antes .

Nem do depois.

Dizem que chorei constatando a impossibilidade de irmãos, uma obsessão antiga. Nunca vieram.

Acho que eu lembro.

Talvez eu lembre.

N.V --01/23

LizaBennet
Enviado por LizaBennet em 07/02/2023
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