A Cor do Meu Grito

O grito apertado

O grito guilhotinado

O grito sufocado

A mágoa que grita

O grito que ecoa devastado no silêncio dos descasos

O grito que chora sem lágrimas

Não há mais lágrimas, a sua fonte secou

Não há mais como nutrir e irrigar

os poros da pele como morada da vida que ainda pulsa

A angústia no curtume, no varal, na sentença que avança, que alavanca dores e mais dores

E essa continua dor a arder na noite tão larga, tão seca, tão pobre

A raiva a implodir as veias, a explodir

o que ainda restava de coragem

As lágrimas contidas escondidas

As feridas a queimar na escuridão de mim em pedaços, em farrapos, às cinzas, à míngua, as léguas distante de um gole de poesia

numa escassez de versos soltos e perdidos nas ventanias dos descasos, das indiferenças, das hostilidades

Meus sorrisos soterrados,

enforcados, castrados nos currais

volumosos de tristezas

Mas, sem espaços para o ódio

Mas, ainda resta um pouco de ternura,

de afeto nos esconderijos de mim,

no pulsar da ousadia da existência da minha alma mesmo pálida mas ainda viva, cheia do calor da minha forma de existência!

Raimundo Carvalho
Enviado por Raimundo Carvalho em 20/02/2023
Reeditado em 21/02/2023
Código do texto: T7724027
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