para lembrar

PARA LEMBRAR A MIM MEUS 77 ANOS:

Cá entre nós

A noite se rebela

Em densas nuvens,

Acorda seus instintos

Soprando ao vento,

Recordando tempos

Entre dobras de passado

Renitente...

O tempo, cá entre nós,

Não se apega

A mementos e momentos,

Apenas segue a linha

De seu tempo...

Por mais que freie

A passagem deste dia

Da tristeza à alegria...

Tudo passa, tudo gera

Nostalgia...

Rompe o cerco

Da folia e tresfolia

De verdades guardadas

Em diversas mentiras,

Solta o termo miserável

Entre deslocados

Xingamentos...

O que se passa

Neste nervoso momento

Que traz à fala

A fera escondida

Em elementos?

Talvez a lida de ontens

Revisados,

Talvez apenas figura

Do passado...

Frontispício de dores

(Ou de amores)

Desencontrados...

Por mais que olvide

Pedaços de revides

Açoitam a mente,

Agora pertinente

Ao tempo presente...

Por onde caminha

Aquela paz de sempre,

Acompanhada

De eterna paciência?

Foi-se com a derrota

Dos instantes nervosos

Entre calmaria

E revolta...

Por esta mecha

De cabelos brancos,

Por esta barba

De pelos hirtos

Se volta ao campo

O menino tímido

De um tempo

Inda presente

Na memória triste

Daquele tempo

Em paz consigo...

O que te sobra,

Senão o peito amigo

Desse tempo

Removido?

A vida, até aqui,

Me trouxe ao colo

Desde o eu menino

Ao tempo dorido

D’agora...

Não lembro hora

Sem ter sentido,

Tudo acontece

No imprevisto

De cada dor

Que foi embora

À dor que vive

Comigo a cada hora,

Ao desabrigo de saber

Se posso parar ou correr

Dessa que faz sofrer

Entre sorrisos...

Colhi o ouro

De todas as bateias

Que me vieram ter

A mãos cheias...

Não sou um ninguém,

Tenho minha identidade

A prezar das forças

Que carrego

Entre martelos

A pregar os pregos

E entre pregos

A absorver pancadas

Vindas de todo lado

A machucar o ego...

De quantas vezes

Estamos falando?

As cicatrizes contam

Fatos e boatos

D’antanho...

As folhas caem

Ou se atiram ao chão

Desesperadas?

Nesta hora chora

O chefe da galhada

Das folhas murchas

Por as ter murchadas

O gesto indiferente

Do que passa...

Lembra o boi pastando

Também indiferente

Ao passante crasso

Mascando sua massa

De capim e folha

Caída deste galho

Escarço...

Quem nesta hora chora

Alhures ao mundo

Ao redor de seu tempo

Vagabundo?

Quem nesta hora ri-se

Sem motivo ao outro,

Que nem sabe

Se existe o outro

Observando gestos?

Um velho cansado

De chorar a dor

De ter passados...

A terra, incólume,

Deixa passar o boi,

A folha e o homem

Que tropeça na flor

E se abate ao saber-se,

Ao ser-se pisada

Em termos laicos...

Na solidão a chuva

Perdida na saudade

Do mar revolto

À campina calma

Se eleva aos céus

E desce nas cidades

Entre gentes e flores

E bois e raive

Pelo perder-se

Entre ruas frias

E calçadas ásperas

Às dores da verdade,

Aqui sorriem viventes

Da última idade,

Sem freio de aparte

sergio donadio
Enviado por sergio donadio em 05/03/2023
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