SOB MAU TEMPO
Esperei a chuva passar
Para seguir em frente
Mas a trilha pela qual eu vim
A água apagou
E o futuro chegou
Antes de mim
De repente
Deixe me adivinhar
A chuva não vai passar
E é preciso ir
Adiante
Mas não reuni coragem o bastante
Para prosseguir
sem olhar pra trás
Te encontro
Nos meus sonhos
onde somos iguais
Duas bocas
sofrendo da mesma sede
Rezo minha agonia
Em palavras pobres
Na certeza de que o tempo
Não está do meu lado
E é preciso mentir ao espelho
Com um sorriso morto nos lábios
E a voz afetada pelo tremor
Além desta noite
Não sei de outro mal maior
Que o sono perdido
Nas dobras do olhar
Me deito no leito da espera
com o corpo em silêncio
Mas a alma te chama
Pela janela aberta
E só o temporal me toca
Debaixo de chuva
Pés descalços
Vou a algum lugar
Qualquer
Com medo
Uma vontade de gritar
Até não sentir mais nada
Além da dor concreta
Que tenha tamanho
E caiba
Num dia do calendário
Que obedeça a um nome
E responda a um antídoto