SOB MAU TEMPO

Esperei a chuva passar

Para seguir em frente

Mas a trilha pela qual eu vim

A água apagou

E o futuro chegou

Antes de mim

De repente

Deixe me adivinhar

A chuva não vai passar

E é preciso ir

Adiante

Mas não reuni coragem o bastante

Para prosseguir

sem olhar pra trás

Te encontro

Nos meus sonhos

onde somos iguais

Duas bocas

sofrendo da mesma sede

Rezo minha agonia

Em palavras pobres

Na certeza de que o tempo

Não está do meu lado

E é preciso mentir ao espelho

Com um sorriso morto nos lábios

E a voz afetada pelo tremor

Além desta noite

Não sei de outro mal maior

Que o sono perdido

Nas dobras do olhar

Me deito no leito da espera

com o corpo em silêncio

Mas a alma te chama

Pela janela aberta

E só o temporal me toca

Debaixo de chuva

Pés descalços

Vou a algum lugar

Qualquer

Com medo

Uma vontade de gritar

Até não sentir mais nada

Além da dor concreta

Que tenha tamanho

E caiba

Num dia do calendário

Que obedeça a um nome

E responda a um antídoto

ROSE VIEIRA
Enviado por ROSE VIEIRA em 13/03/2023
Reeditado em 23/03/2023
Código do texto: T7739274
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