Versos de Dezembro

Em dezembro as mulheres

baixam das janelas suas cortinas,

e as lavam na água cristalina,

perfumando-as com os perfumes da alfazema.

Mudam os sofás de lugar.

Tiram das cristaleiras: compoteiras e cálices.

Louças das avós são reservados,

os talheres polidos.

Depois, os homens trazem os pinheiros,

os enfeites guardados se transformam

no vibrante esplendor

(espiado pelos vizinhos)

e crianças encantando.

Em dezembro até os animais da casa

sabem que algo inusitado

está para ser celebrado.

Há luz nos olhos dos moradores,

mulheres dedicadas, homens amorosos.

Há a realidade da casa e o irreal da casa.

Os mortos da casa se achegam

e uma onda de saudade

se aninha nos corações.

Em dezembro, nas casas, há um nascimento...

...e Deus se agrada...

No calor da noite o Menino

senta à mesa

e dá as mãos à Paz e ao Amor.