ARMADURAS
I
Bastava-me compor apenas uma música,
mas não consigo mesclar duas partituras:
a da nota muda do poema e a que inunda
o canavial dos pelos deste meu corpo sujo.
Eu sou aquele que dorme com a armadura.
— Nem o verso vence minha farsa absoluta.
II
E paupérrimo do poeta crédulo cujo verso
moverá os montes ou o salvará do inferno,
seja o da terra, seja o do fogo nas costelas.
A vaidade sempre será o couro das rédeas,
quando curvamos a cabeça, e vemos a goela
preta do umbigo, de onde poucos regressam.