E Que Eu Morra Encharcado

Se um dia eu morrer

Que eu morra encharcado

pelo súbito susto de um verso se traduzindo num instante

desprovido do intento de se tornar útil

Que eu pereça vislumbrado, assustado e atônito perante o abrir-se de uma flor irradiando sua ousadia misturando a alegria de seu perfume colorir

o infinito momento que se desdobra onisciente

Que finalize meus dias diante da absoluta escuridão noturna com uma miríade de estrelas dançando e florindo a noite com sabor de euforia

Que eu morra num instante onde passarinhos teçam seus cânticos como poemas ecoando no infinito mundo sujo de vida !

Não quero morrer nunca

Mas, caso aconteça, que eu morra de overdose da contemplação dos ventos compondo seus versos perante a presença de vaga - lumes freneticamente alumiantes nas noites quentes de verão

Que eu nunca deixe de fruir

um deserto de flores

se alastrando no infinito

com todas as cores, com todos os tons, com todos os cheiros

Não posso morrer

sem antes tingir o meu coração com uma overdose de beleza

ao sentir os cheiros das flores com suas peles únicas,

que surgem rompendo

a desmesura na atmosfera Caatinga nos Sertões tão bonitos

Que Deus me permita sugar com meus poros

o perfume das estrelas

com seu ritmo singular,

tão bonito

Quero morrer asfixiado com um susto da cor azul dos mares tantos

Quero partir com meu sorriso largo perante o ribuliço

de pedras escrevendo com suas andanças e cantando seus poemas à nobreza de tempos

raros de tão nobres

Quero morrer embriagado, com a alma inundada,

com meus músculos munidos

e com meus poros transbordando

o gozo de sugar do meu cotidiano

a alegria de sorrir

com o êxtase de pulsar

respirando o prazer de morrer perante o pleno exercício

de morrer embriagado

com os verbos únicos que tremulam os alicerces de minha existência

Raimundo Carvalho
Enviado por Raimundo Carvalho em 25/03/2023
Reeditado em 27/03/2023
Código do texto: T7748724
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