Seguro da Insegurança

Que medo bobo é esse

de abrir as próprias certezas

e deixar sangrar o sensível,

multilar a máscara alegre

para que caibam as rugas

cultivadas no cerne do eu,

abrir-se como pétala

arrancada pelas mãos lisas

de uma criança entristecida,

chorar como quem ama

aquilo que a existência

há tempos já sorveu.

Olharão para sua elegia

(se olharem, é claro)

com indiferença.

E o coração, exposto ao mundo,

padecerá como um peixe

estrangulado pelo ar.

Mesmo assim, que medo bobo

é esse de se expor

para uma plateia silenciosa,

para a sua penitência, criança,

não encontrará amparo

na plateia ou em qualquer outro lugar.

Eduardo Becher
Enviado por Eduardo Becher em 26/03/2023
Código do texto: T7749487
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.