SECA-MAZELAS

Aquele amor não tinha casco, nem retalho,

nem respingo torto.

Era amor cangaço, servil, latejante,

sabia das cores de cada um,

dos gomos de cada um.

Era amor rabugento, aflito, irrequieto,

daqueles de esbanjar alforrias, de sacudir gigantes,

dava gosto ver seu abranger tão lindo.

Mas o chão o fez esquisito, faminto, sacana.

Sacudiu seus penduricalhos sem pena,

desmatou seus encantos até não poder mais.

Daí o florido enfeiou, esqueceu seu ar,

desmoronou ladeira abaixo, abaixo, abaixo...

virou enjoo de bebê, virou traste bizarro,

descambou da sua sina, do seu gingado.

Mas a vida vendo tudo, chorou. Como chorou.

Foi até lá e assoprou encantos e seca-mazelas,

daí o amor relembrou seu texto e sorriu. Como sorriu.

Sorriu como sorri o mar pra afagar as sereias,

sorriu como sorri o sangue quando é aguerrido,

sorriu como sorri Deus ao voltar para casa com dever cumprido.

 

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 30/03/2023
Código do texto: T7752299
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.