Amores infantis

Entre os mimos que a vida desfolha

Da ventura que a luta descae,

Há suspiros saudosos que ficam

D'um perfume que nunca se esvae.

Como um resto de céu desnublado

Em que um riso perene flutua,

Fica n'alma um recanto estrelado

Que a inocência infantil perpetua.

São os sonhos mimosos abertos

Como se abrem nos campos as flores,

Com os mesmos orvalhos celestes

Que entesouram na rosa os olores.

Lá bem longe no seio profundo

De lembranças já meio apagadas

Há centelhas que brilham constantes

Entre as cinzas no peito guardadas.

Muitas vezes é a luz d'alguns olhos

Que num dia ditoso se viu,

Que deixaram-nos n'alma um reflexo

Que ao depois nunca mais se extinguiu.

Mas em troca do brilho que fica

Vae-se um pouco de cismas voando

Em procura do céu... desses olhos...

Da ventura... que foge... até quando?...

Até quando?... Até nunca!... Esta vida

Uma infância, uma só dá pra flor;

Não repete a pureza das almas,

Não repete a pureza do amor.

Este poema é do sergipano Sílvio Romero, em seu livro "Últimos harpejos", escrito em 1883. Li pela primeira vez aos 15 anos de idade, tendo decorado as três primeiras estrofes. Após procurar por tantos anos, finalmente consegui encontrar.