O homem da banca de jornal
(Wilmar J. Rosolen Pimentel)
(Do meu livro "Um pé lá e outro cá")
O homem da banca de jornal
Tem uma calvície clássica
Tem asma e é estrábico
Nunca se levanta de sua cadeira
Atrás da caixa registradora
E atende a todos os clientes pelo nome.
O homem da banca de jornal
É gentil mas não ri à toa
Não dispensa um bom papo
Entende de tudo um pouco
E tem resposta para tudo
Atencioso, nunca nega uma informação
O homem da banca de jornal
É o típico boa praça
Conhece a natureza humana como ninguém
E tem sempre uma palavra amiga
Jamais discute religião nem política nem futebol
Diz que é para não perder a amizade
O homem da banca de jornal
Nas horas vagas escreve versos
Tão belos quanto tristes
Vive só por opção e convicção
Se faz de surdo quando lhe pedem fiado
Amizade é uma coisa, negócio é outra
O homem da banca de jornal
É um sábio que usa boina amarela
É estátua de si mesmo em si mesmo
Portador das boas e más novas
Vê o mundo a passar nos limites
Da sua caixa registradora
O homem da banca de jornal
Não tira dia de folga
É no trabalho que se sente vivo
É no trabalho que se sente útil
Ninguém sabe sua idade ou mesmo seu nome
Dele só sabem, que é o homem da banca de jornal.