AGORA NÃO MAIS

Agora não mais

teu rosto encostará no meu

nas noites febris em que passava

em tua cama deitado ao teu lado

Agora não mais

teus dedos ágeis cuidarão dos meus

no atravessar perigoso das ruas

em busca do chegar incerto

dos minutos logo vindouros

Agora não mais

hei de te ver olhando as tardes

debruçando-se sobre o horizonte dos morros

ao se esconder por detrás

dos telhados das casas e das cidades

Agora não mais

me verás o sazonar do meu corpo

e o esticar da pele sem acnes

que me encobre os ossos e a alma

que trago agasalhado

embaixo do encurtar gradual das roupas

Agora não mais

iremos juntos ao comércio das calçadas

e perambularemos pelo tempo sem olhar relógios

embora sempre às dezoito horas

ouçamos o toque das Trindades

no orar das Ave Marias

nas exatas horas da Anunciação

Agora não mais

passarás as madrugadas em claro

a urdir com teus fantasmas

no silêncio desocupado da casa

as mesmas repetidas preocupações

enquanto me divirto com o barulho

agitado das ruas e dos hormônios

no borbulhar efervescente

da minha primeira quinzena de anos

Agora não mais

irei te ver sumir no mar da praia

daquele fatídico janeiro

no ano seguinte ao que fiz

os meus tristes dezesseis anos

Agora não mais

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 10/05/2023
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