Uma Noite

Quando sentir no peito

ruído de vento em alpendre,

descobrirás que o feito

em nada me surpreende.

Tão gelado quanto a poça

d'água que encontra o rosto

daquele coitado, exposto

ao carro e à carroça.

Úmido tal qual tecido

coroado pela chuva ácida,

pesado como os olhos doloridos

pendurados na pele flácida.

Beijo algum reanima,

mas a esperança dos lábios

é tudo o que há, é tudo.

Não há nada que exprima

o ato daquele que grita

somente ao constatar-se mudo.

Eduardo Becher
Enviado por Eduardo Becher em 12/05/2023
Código do texto: T7786071
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.