Uma Noite
Quando sentir no peito
ruído de vento em alpendre,
descobrirás que o feito
em nada me surpreende.
Tão gelado quanto a poça
d'água que encontra o rosto
daquele coitado, exposto
ao carro e à carroça.
Úmido tal qual tecido
coroado pela chuva ácida,
pesado como os olhos doloridos
pendurados na pele flácida.
Beijo algum reanima,
mas a esperança dos lábios
é tudo o que há, é tudo.
Não há nada que exprima
o ato daquele que grita
somente ao constatar-se mudo.