Eu e eu mesmo

O que posso eu

que sempre que pude, abaixei a cabeça

por medo do grito.

Sou o covarde, há tantos covardes

Há tantos covardes no mundo

Eu sou mais que todos.

Eu que me acho

mais vil que a vileza do ladrão

se não roubei a carteira sobre a mesa

também não impedi quem o fizesse.

Eu me lembro da primeira vez

que a covardia se apresentou

Pensei que era apenas uma relés sensação

Com o tempo

Passou ser parte de mim.

Cedi ao medo pela simples covardia

Não questionei ordens absurdas

Não saí às ruas contra o tirano

Não enfrentei ao soldado.

Fiz da covardia a desculpa para não reagir

Vil, mil vezes vil, em toda vileza da palavra

Ao simples sinal do soco

Me abaixei e saí em silêncio

De frente à vitrine da confeitaria

Uma criança olha os doces

Será que tem vontade?

Pergunto em pensamento.

A criança sai

Os doces continuam na vitrine.