METILENOS

Estou por aqui, a roçar no outro poema,

e escrevendo e espremido e bem no meio

da tinta de tudo que representou o tempo

engolido pelo apetite insaciável das redes:

a ânsia dá a faca, e a velocidade, o queijo.

Ninguém soube das exéquias do presente

e nem as do futuro. Aconteceu rapidamente.

Sempre deserdei o meu verso (é insuficiente,

e sua asa é de parafina, e eu de abafamentos.

Enquanto tombo o rei, ele evapora ao violeta

que segura a cúpula e os seus cento e oitenta).

Leio lento a poesia completa de Alexei Bueno

e, página após página, não sou mais o mesmo

(meu sonho mudo é o de convocar um vento

para servir o frescor sudoeste que, de repente,

libertaria todos os oxigênios desse fumaceiro.

Vir à tona… Emergir lá do fundo do nevoeiro,

onde há metilenos suspensos), mas não deixo.