Pés Calejados

 

Linhas que seguem entre orvalhos,

Entre espaços, entre frestas

Entre uma rotação e uma translação

Do infinito dos olhos de um ser ermita

De um mágico, um louco, um suicída.

 

Entre pés calejados, pés passados,

Há fragmentos de caminhos escravizados.

Nas alças dos lados adormecidos egos,

Dos contornos planetários, etereamente

planos,

Eus íngremes, mas que eterniza o belo e

castra os desenganos.

 

Houve um teorema, um trema sem tema

Entre a boca e os desmaios epiléticos.

O mel juntou-se ao dorso da língua seca

A sucumbir os lados incrédulos, a vomitar

o cético.

 

Houve uma ventania de areias cósmicas

Entre o eu que calo e o eu que grito.

Faces em mim que imortalizo

E outras que apedrejo e extermino.

 

É o estreito caminho que me leva solta

E o largo caminho em que me vejo presa,

Que corta à aorta, a hortaliça da mesa;

Ardo em fogo a seguir à tal chama.

 

Quem me sufoca? Não são os dias,

Não são as oscilações do tempo

Nem a dor do dedo na ferida

E sim aquela flor com espinhos,

O lado alado desgovernado.

Há falta de mobilidade, falta de mim,

Falta de um mundo esbravejante,

Falta da vela no bolo; tudo mais adiante.

 

Estamos em degeneração constante,

Vendo o outro como mutantes,

Degenerativos contemporâneos.

Laços antigos são quebrados,

Quebram-se também sonhos e amigos,

Quebra-se a paz que é torturada,

Demolida, arranhada na calada da noite

Ou em pleno meio-dia que faz dormir 

A infância por demagogias estilizadas,

Por medos, desejos, traições e dinheiro

Ou por amores vãos e selvagens.

 

Estamos perdendo a identidade,

Perdendo a vontade da luta.

Falamos de amores, família, liberdade,

Mas não podemos sair às ruas livremente

Porque enchemos de luto nossas casas,

De medo nossas mãos,

De deformações nossas mentes.

 

Síndromes se estalam em nossas veias,

Estamos esteriotipados,

Somos o berço e o cajado,

Somos o rio de leito vazio,

Barco sem vela, remo sem direção;

Caminho, pegada, becos desertos,

Traços, laços, nós, cidades sem foz.

 

Visão: A terceira visão precisa ser o alerta,

Existe, verbaliza no ato surdo da fala,

A terceira visão que perpassa e transforma

E que pode ainda salvar o homem da

inanição.