FUNDO

Tenho um buraco que vive aqui por dentro,

e nada o preenche, seja fumaça ou alimento,

álcool ou tranquilizante, elixir ou unguento,

grito ou convulsão, catarse ou pensamento.

Da Fossa das Marianas, é bem mais extenso

e alcança o intestino da Terra incandescente.

E por mais que eu tente, mais que eu queira,

é do breu que predomina que me estabeleço,

nas imagens coreografadas entre as paredes

do dormitório, e que conversam em silêncio.

Sento e levanto mil vezes e tremo e lamento:

̶ O que pode domar todo este desassossego?