luz e sombra

O sol toca o rosto do mundo esmaecendo

Sua dor, pois tudo é rosto quando tudo

É dor, e este, que também tem rosto espalhado

No corpo, recebe pelo vidro da porta o espetáculo

Do claro bonito nas coisas,

Claro que durmo quando tenho sono

E esbravejo quando o espasmo de algum

percevejo me toca a pele, mas sei-me dentro

Desse redemoinho, posso ver-me a colocar a

Boca pra fora em busca do ar, dos braços chamando

Ou a lembrança que como um dia estável me relaxa

Para que às águas não me consuma.

Outro dia vi uma mamoneira com seus

Bagos espinhosos tragando a luz do meio-dia,

Era outro dia, eu tinha cinco anos, e já me achava

Como sempre acho que me acho, e dessa maturidade

O cacho dela – as mamonas - onde a sombra só estava ali para

Dar à luz a luz, me atirou para todos os anos que tive,

Não chorei como hoje choro, mas vi mais do que eu

Via, porque ali, nas tábuas por onde atravessava a

Barroca houve um parto onde a beleza foi parida

E dançando sobre os pensamentos hoje é lamparinas

Alegres, que perdura no escuro mais bravo. Quando

Meio dia, a luz é mais intensa, do outro lado do mundo

A sombra já cavouca a terra.