No tempo da Vovó

Agora tu vais me pagar\

O novo e o velho\

Assim dizias\

E lá vinha ela\

Aquela negra com cabelos de algodão\

Com aquela roupinha\

Toda de chita florida\

Vagarosamente com o seu ar suave\

Iniciava o seu rito\

Colocava sobre a mesa\

Um pires bordadinho\

Uma colher de azeite de andiroba\

Uma gota de Copaíba\

Uma cabeça de alho amassada\

E alguns pingos de limão\

Enrolava o indicador no algodão\

Ai meu coração\

E com aquele jeitinho que só elas tem\

Me ajeitava a cabeça no seu colo\

E curava a minha garganta\

Amassando sem compaixão\

As amidalas\

Dizendo meu filho aguente, que é pro seu bem\

Entre gritos e lágrimas\

O gosto amargo da solução\

Ai que saudade\

Dessa arrumação\

Depois deitar na rede\

Comer um torrão de açúcar\

Pra aliviar a inquietação\

Sossegado daquela agonia\

No embalo da rede adormecer ouvindo ela contar as historinhas de ninar\

Quem não viveu pra contar\

Ai que saudade que dá\