Vai chegar o dia...
Vai chegar o dia,
em que a sombra ficará tardia...
A farsa será descortinada,
a verdade navegará soberba,
em seu barco azul de primavera.
A mentira será despedaçada...
Cada um terá um nome certo
e não se admirá a farsa do esconderijo...
Cada mentira pusilânime será mostrada...
Os versos roubados serão restituídos...
Os choros convulsivos serão ruídos
que a muitos, por certo, incomodará...
Tudo será lido, como num livro aberto...
E é bom, nesse dia, ficar por perto
de uma telha grande e perfeita...
Porque os telhados de vidro serão quebrados!
Os espelhos estilhaçados
E a tempestade desabará...
Cada lingua afiada poderá falar
o que sabe, pois este dia virá!
Virá mais breve que o sol da manhã...
Soprará ligeiro como um vento sul.
Será julgada toda calúnia vã
e ninguém poderá evitar esta tragédia;
porque existiu tanta comédia
que o pano da cortina já se decerrou...
É bom que os farsantes se retratem,
pois na hora do juízo não haverá clemência...
Toda indolência será julgada,
toda a rigidez do comando ocorrerá...
Impiedosa será a mão que sentencia...
A tudo isso assistirá a Poesia
e vigorosa será a força da magia...
Ardente em brasa falará u'a voz
que pedirá piedade, mas não a alcançará...
O pleito da loucura não encontrará
a cara do tempo, que já foi mostrada...
Já teve uma tez romântica que acabou
e, agora, tem, apenas, u'a pele enrugada...
Deus, piedade, para os insanos,
piedade para os que marcararam sua sensatez...
Chegou a hora, já não há mais vez,
já não há mais tempo, a face enrubeceu:
o dono da poesia, enfim, apareceu,
saudável é a alegria neste ano, neste dia, neste mês!
(às 21:52 hs do dia 19/12/2007).