Na rua do mundo

Meu amigo/

Me desculpe, mas hoje não tenho pra dar/

Por muitas das vezes a te ajudar/

Estou no teu lugar/

E assim se ver a coisa transitar/

É só/

Abrir a porta do mundo/

Não te dou um segundo/

Pra miséria falar/

Pros gemidos te azucrinar/

Pras lágrimas te tocar/

Nas esquinas/

Nas praças/

No ônibus/

No metrô/

Em qualquer lugar/

São crianças/

São moças/

Jovens e velhos/

Pais ou mães/

Há sempre alguém a te esmolar/

E são tantas histórias/

Tem gente/

Que esmola pelo filho enfermo/

Pela perda de emprego/

Apela pela fome/

Por tantos desesperos e desconfortos/

Há lugar até pra gente/

Que vem pelo vício/

Pela preguiça/

Quando não,  também pela mentira/

Que quando a verdade visita/

É difícil acreditar/

Em muitos dias/

Podemos usar a razão/

Na maioria das vezes/

Quem se mostra é o coração/

Esses queixumes/

Parece não ter um tempo de findar/

São de noite/

São de dia/

A hora que os pés se põe a porta da rua/

Nossa misericórdia/

Nossa solidariedade/

Que é testada a exaustão/

Começa a definhar/

Porque tem gente que faz disso profissão/

Agora culpar quem/

Se não sou juiz da situação/

Se há imprevistos e ele vem sem previsão/

Quando não/

Há quem, sob o livre arbítrio/

Procura sua prisão/

Aviso de antemão/

Cuidado, pois há na estrada/

O passarinheiro/

Que te arrebata/

Quando tua personalidade/

Pueril é como animal no cio/

A se perder nessa urbanicidade/

Por uma ilusão vil/

Como disse antes/

Não sou eu senhor/

Embora seja semelhante ao julgador/

Por isso me reservo a me humanizar/

Por isso me reservo a me fechar/

Dói demais ouvir e ser indiferente/

Mas a gente tem os nossos pra cuidar/

E não venha por em minhas mãos/

Uma dor de tão elevada emoção/

De tão elevado peso, não saberei carregar/

Sou tão frágil quanto você/

Que tem o direito de ser perder e se encontrar/