ALTAR
Nesta casa de paredes nuas e mornas
Tudo permanece
Todo caminho longe vem bater aqui
As tardes morrem diante da sacada
As madrugadas agonizam ao pé da porta
Os dias espreitam pelas frestas das janelas entreabertas
Podes então me dizer como escapar
Desse circuito fechado onde o corpo aprisiona a alma
E o tempo desenha mapas intermináveis a partir dos meus passos
Observo as unhas crescer
E os cabelos revoltos
Mas meu rosto impassível
Não revela o conteúdo dos sonhos
E os olhos pesados silenciam a cor da insônia
Nesta casa de carne e osso
o oco da memória faz soar a hora do regresso
Como quem prepara o ninho da espera
E beija vidros sobre rostos emparedados