as palavras, fantasma

A porta entreaberta, não luz nem noite,

Palavras entranhadas, como putas, em minhas vísceras.

Discursam em canivete, ecoam ou voam,

Num vácuo imperturbável, são elas e

Na paciência enfurecem, prontidão de esperas.

Vertigem vertiginosa, enganam quem confia, são

Insolentes, imprudentes, fingidas, brotam à beira da montanha,

Onde um abismo ampara, medo flor medrosa.

Destilada, enfeitiça caverna, no corpo, espada,

Na silhueta onde uma praia nos destrona, as mesmas

Palavras abandono, como num caso de conquista, elas

Se alarmam e mostram a vista, questiono meu cimo,

Trata-se do quê, digo-as lindas e perfumadas, mentira sólida.

Ofereci, pois num fundo, palavras são fantasmas, quando

Apresento-lhes mãos, ainda coquetes, uma a uma

Se oferecem, o poema ganha fundação, elas, uma a uma,

Se amortece, entram num sentido já montado, como

Gaiola cujo ferro é linguagem. O poema segue se formando

ganhando com as mãos identidade, então uma verdade aparece

não a verdade de verdade, mas outra, que o sentido é que a tece