Marulhar

Estava eu numa terra distante\

Olhando os arranha-céus\

Do sétimo andar de um prédio\

Vendo os carros como corcéis\

Pessoas, faladas como menestréis\

Ouvindo a distância um pássaro aqui, acolá\

Numa viajem\

Que me fazia\

Por horas pensar\

Na saudade do lado de lá/

Nem sabia mais da minha identidade\

Quando descortinou das nuvens\

Sem qualquer palavra\

Em sua cândura crescente\

Acordando toda a rua, daquela escuridão\

Completamente indigente/

Como senhora da situação\

A lua\

Tão minha, como sua/

Me arrebatando da tristeza\

Me levando a beira mar/

Pra ouvir silenciosamente\

No ir e vir de cada marulhar\

As ondas a cantarolar/

Nos ouvidos dos igarapés/

Qualquer coisa como/

Olho de boto/

Mururés/

Batida seca do remo/

E aquela brisa a transbordar Belém do Pará/

Marcando no peito a consulta/

De um ver o peso/

Todo em fruta/

Com suas mãos a abraçar/

Tucupi e o açaí\

Bacuri/

Peixe assado na brasa/

Aquela chuva ardorosa/

Que entranha/

Assanha e convida a a se misturar/

Nas águas barrentas das ruas do Guajará/

Ouvindo das mangueiras/

O nosso sabiá entoar/

O alivio do calor da nossa terra/

Estava numa terra longínqua/

Onde há garoa nas estações das flores/

Quando a saudade veio me visitar/

Dizendo calada/

Belém do Pará/