ESPANTOS

O único desejo do poeta

é o de fisgar um verso faminto,

no oceano suspenso das cinco,

quando o vento apaga as velas

sobre o cetim carmim da esquina.

Meu modo conta tudo, dez em dez:

entram os cacos e, além do verbo,

todas as preposições e artigos.

Tento os tons ocultos da orquestra

do poema e a voz dos seus timbres:

a partitura sem clave das sílabas

— mistura de silêncios e de febres.

— Poesia é um espanto nômade

que aparece, mas não diz o nome.