PAR

Eu gosto de procurar o meu verso

e executar o único ofício do poeta,

o poema: ser o parteiro das sílabas,

juntar seus cordões e dar-lhes vida.

Imerso entre a cerração e a neblina,

pois acolá é o endereço onde ele fica,

ouço a sinfonia das fumaças, os ecos

da luxúria que transitam sob as vielas,

e penso que agarro, mas ninguém o pega.

Passo as trancas, e o saci escoa pela fresta.

Menos vivo, volto. Trago na aba da bainha

a poeira de tudo o que fomos (em poesia).

A luz clara das quinze invade minha janela.

É a tarde se exibindo (e me deixo com ela).