desen(cantando-se)

garimpei por muitas minas

até do Rei Salomão

em busca de pedras finas

para a minha coleção

dessas pedras tirei leite,

tirei gemas e sementes

que plantadas deram frutos

e flores incandescentes

no meio desse jardim

construi meu santuário

com safiras e brilhantes

que comprei num antiquário

uma fonte de água doce

corria por entre as pedrinhas

topázio, rubi, turqueza,

e uma bela água-marinha

mas um dia um peregrino

quis conhecer meu rochedo

dizendo-se alquimista

e devoto de são pedro

sem nenhuma cerimônia

dirigiu-se ao meu altar

provou do pão e do vinho

e benzeu meu patuá

remexeu meus pergaminhos

meus papiros, meus tesouros

adulterou minha fórmula

de transformar chumbo em ouro

depois saiu de fininho

levando em sua bagagem

meu pujá de diamantes

meu terço de lápis-lazúli

levou meu olho de hórus

cravejado de esmeraldas

que ganhei de um faraó

numa lingua embalsamada

quinhentos grãos de mostarda

que tirei de uma parábola

e um broche que La fontaine

me vendeu por uma fábula

Mas como diz um ditado

quem tem pressa come cru

pois na pressa ele esqueceu

sua flauta de bambu

ainda quis correr atrás

mas logo o vi se arrastando

carregando aquelas pedras

e outras pedras o cercando

compreendi então na calma

que se a palavra é muralha

mas vale um flauta na boca

que mil pedras na sandália

(Lia de Oliveira - Belém/PA)

Lia de Oliveira
Enviado por Lia de Oliveira em 22/12/2007
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