sobre ser cidade

O sol que afugenta os pensamentos.

A fome que arremata, arrebata e arrebenta a cultura.

O barulho que enlouquece os sentidos.

A cidade se apresenta sem preces.

A cidade e suas marionetes.

A cidade e seus fantoches.

A cidade que se perde e me pede: me leia!

me descubra!

me possua!

A ser assim cidade

com suas veias entupidas.

Com o coração na iminência de enfarte!

Com o cérebro luminoso fluorescente.

Pisca, pisca e pisca e queima de repente...!

E dói e mastiga os temperos da vida.

Cidade de ambíguos umbigos ambiciosos.

Cidade movimento

músculo

nascimento.

Transparência que mostra os mascarados vampiros

a bailar

olhos, olhos, olhos nos olhos de espíritos que tentam escapar...

Sorriso amargo na cidade desespero.

Alguém pinta uma placa

nomeia uma rua sem calçamento

a rua sem ambições:

"rua do disprezo e da escuridão"

Precisa-se nomear mais?

Precisa-se especular poetica-inutil-mente a respeito?

Os olhos se fecham

na tentativa de escapar

às acusações na esquina do tempo.

Esquina do tempo: ninguém se esquiva.

Cidade, ...domínio.

Aleijão da terra.

Cidade, ...desperdício de força.

Pessoas que desejam máquinas que compreendam

pessoas que desejam camas macias com outras

pessoas que gritam tanto o dia todo com

pessoas que queriam vida, sedentas, no entanto só se deparam com mais

pessoas e seus espetáculos particulares, e seus sorrisos malabarísticos,

e seus sonhos e desejos que culminam na desesperadora necessidade

de amor.

Mesmo que seja o amor próprio.

Pensar bem,

passar bem!

Laís Romero
Enviado por Laís Romero em 22/12/2007
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