Coração Bandido

Vinha de algum lugar\

Preocupado com algo\

Que não sei precisar\

Mas perdi o foco da dor\

Ao sentir passos aleatórios\

Desconhecidos pela rua\

Como a me avisar\

Que você estava lá\

Ao ler a sua imagem\

Meus olhos não pararam de alucinar\

Você passando e a me retribuir aquele olhar\

Fez naqueles segundos\

Que nem conseguia falar\

Meu coração nascendo a acreditar\

Que você era a mulher da minha vida\

Surgiu tão iminente\

Como a luz resiliente\

Naquela escuridão\

A me acordar\

Tão atormentado fiquei, que nem sei explicar\

De longe te acompanhei\

Até me apaixonar\

Passei todos os dias sob um rito\

A te procurar\

Aprisionando as horas que irias passar\

Ao te esquadrinhar\

Cataloguei a tua simplicidade no ar\

Teus cabelos lisos e curtos\

A curvar-se na nuca\

Tua boca carnuda a me chamar\

Tua passada sem jeito\

Fincada no chão a desajeitar\

Tímida, com um balançar\

De uma dança, a me convidar\

Como se, a flor da pele tu também estivesses\

Tão prestes a se doar\

Latente, existente\

Aquele amor estava lá\

Tão jovem, eu não sabia como tomar\

Um dia ao teu lado\

Meu corpo suando a tremer\

Trocou umas duas palavras\

Ouvir sua voz suave responder\

O que eu nem acertava dizer\

Tanto eu tinha pra falar\

Que acabei sem saber\

Que o tempo, talvez cansado de esperar\

Por si resolveu\

De você me tirar\

E até hoje\

Embora, as vezes, me refastele do frio\

Em corpos de abrigo\

Sinto aquele vazio nocivo\

Que a nefasta solidão\

Como um castigo me impõe\

Por isso, sem paradeiro certo\

Sigo sangrando e ferindo, sem conseguir amar\

Sabendo dentro de mim\

Que um dia, nesses muitos anos\

Vou ao menos te ver passar\

Só não sei/

Quando deixarei /

De nessa loucura do passado/

Voltar a te procurar/