LÁPIS-LAZÚLI (11)

DIAS DE SÃO DIAS

Dias comedidos não foram

meras medidas?

Desejos atribuídos foram sinceras

pedidas?

Meras convicções, penso que não...

e, sim, muitas convicções,

sendo, assim, mais dinâmico.

Fábulas: rebuscamentos

de realidades pulsantes.

Já não penso como antes.

Contos: extensões, linguagens

reveladoras.

Já não carrego a barca encantada

de coisas perturbadoras, talvez

só um resquício tenha sobrado

quando tudo foi ao precipício.

Tarde obscurecida

já não entristece tanto uma vida.

Procurar o que aquece

e não o que esquece.

Preparar na neve uma quermesse.

Dias sem títulos

titubeamentos muitos,

e como não há para quem

nem bem se define onde está...

Certeza há e como não?

Preparar na noite chá

e acordar com a mesma desesperança,

penso que não.

Querer é a confirmação de qualquer universo.

Sim, preparar a noite a pá,

e para lá da noite mais uma vez dizer: construir!

Insistir nesta palavra,

querer cultivar esta lavra.

Dizer lançando mão da terra e ir efetivando.

E perguntar : _ Já estou me insinuando?

LETRAS

Desmistificaram-se as letras.

Hoje, as letras...

Realidades perpetram

em sua prisão quase perpétua.

Por que sonhar com fuga

tão logo apareça a lua?

Hoje letras

existem mais conscientes.

Não é uma limitação,

é uma transformação.

Em sua prisão perpetra

a fuga perpétua em sua cabeça...

Letras que se fendem em mãos

e adquirem expressões.

Letras perpassam,

ferindo os olhos do carcereiro.

Letras interceptam vãos desvios.

Letras, vejo sentinelas com olhos frios.

Letras ou mãos?

Que passado! Que prisão!

Letras conscientes desta sentença,

mas inconformadas.

Celas e labirintos de vidros,

mas letras investidas.

Saiba por favor disto:

letras livres, passe um risco na sentença.

Entre na prisão,

as letras estão lá nas paredes,

no chão e nos furos das celas.

Veja que elas cavam a libertação,

e a encontrarão.

Veja que elas existem e investem

contra a sentença.

Veja, sinta uma vez pelo menos

e pense...

Letras lá estão contra a sentença dos homens.

Letras lá estão investidas, trazendo confirmação

de essência.

Desmentindo uma falsa ganância.

Letra pura, sem qualquer tipo de demência.

Letras, fiquem com a fragrância...

Letras, fiquem,

porque tenho de morrer.

FERNANDO MEDEIROS

primavera de 2005