MERGULHO EM ALTO-MAR DO QUARTO ANDAR

O mar parece tão alto daqui

Da janela do meu quarto no quarto

Andar a uma quadra da beira-mar (quatro lances de escada, duas esquinas, uma calçada, areia clara, água salgada, mais e mais…),

Cobre os prédios de onde eu vejo

Encosta o céu beijando nuvens no horizonte,

Essas úmidas que mais tarde choverão ali.

Se a terra fosse plana eu iria de

Longe do outro lado enxergar e

Não aos poucos ver sumir.

Esse mar que nem tão azul assim

É só efeito, reflexos, impressões de ótica

Feito quando me deito na areia fitando

O infinito com um punhado de reflexões

Passeando na cabeça, carregando a ideia

De consagração, pensamento latente

Que insistente bate na porta da frente

Eu abro e deixo entrar, me ponho à mercê

Sem endereço caçando continuamente

O íntimo do que eternamente importa.

Mar que salga o organismo mantendo

O equilíbrio dos fluidos corporais,

Mar que salva vidas sem que se perceba,

Mar que leva e traz de volta,

Mar que abraça, dilui, afasta

Um oceano de sensações ruins,

Excessos de antecipações

Que ansiei, conversei, desprendi.

Onda que acorda quebrando na cara

Onde recebe visita e tem quem mora

Vida que acontece, vida que adoece,

Solo que estremece, vida que demora.

Mar que não temo, mas mesmo quando

Manso mantenho igual respeito.

O mar é mistério moldando o imaginário

Lá no início berço imerso do imperfeito

Emergindo o antecessor do ser humano

Cuspindo o fruto de futuros defeitos.

Pena que não posso a imagem dos olhos num poema registrar,

Mas levo a sensação. Lembro sempre que leio e releio

Desconfio do receio desse contato direto, imediato com o mar.

Pablo Machado
Enviado por Pablo Machado em 21/09/2023
Código do texto: T7890755
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