ATÉ PARECE

E parece que a tardinha bege está lenta.

Parece mesmo o clorofórmio do poema,

e toda aquela engenharia erguida e inerte

— até parece que fica, e então desaparece.

E parece que a poesia desfila um emblema

de asa livre, mas é de titânio a sua algema.

Resolvi tombar os biombos e abrir a janela.

Parece que estou vivo — e só resta esta febre

alta, num delírio solitário e calado que desce

sob o bafo morno do entremeio das dezessete.