Cantar para  os Anjos

 

O meu ser em grande profusão reluz

Numa efervecência com humana cruz,

Toca as colinas, lavra o céu da boca,

Desce as ribanceiras insana e quase louca.

 

O meu ser andarilho invade as minhas almas,

Corre pelos trilhos nas paixões das praças,

Dos bêbados, mendigos e dos pervertidos;

Deles se aproxima e arrancá-lhe as máscaras,

Tira as suas vestes fétidas e amassadas.

 

O meu ser em pânico perdido em teoremas

Roda qual pião em ruas de concreto e penas,

A comer o duro pão amassado pelas mãos,

Surrado pão igual aqueles dias que não chegam.

 

O meu ser andarilho invade o céu profundo

Encontra anjos dormindo e outros cantarolando.

E nessa dura pena acorda o livre canto

E canta para eles toda em abandono.