Cheiro de Mato

Foi lá/

Sim foi lá/

Em Macapá/

Que eu vi o rio mar/

Sentir o cheiro da água doce/

No meu corpo entranhar/

E o coro das estrelas a cintilar /

A lua que conhecia só no Pará/

Sempre ia me visitar/

Agora aqui em São Paulo/

Pensando ao ouvir o sábia cantar/

Quem diria, que um dia/

Iria sentir saudades daquele lugar/

Do riozinho que a gente passava/

Dos bicos de guarás na estrada/

Da mata fechada/

Pra chegar no terreno/

Da casinha no morro/

Do fogo crepitando na lenha/

Qualquer coisa, como a senha/

Da saudade de mergulhar no braço/

Do solitário rio Pedreira /

E de molho na rede esperar a noite inteira/

Contar suas histórias a pulsar/

Que começava com a brisa quieta ao som do luar/

Persuadindo a flor da Vitória- régia /

A se abrir, se mostrar na seresta/

Que vaga- lumes, grilos, sapos e pássaros /

Faziam pra festa começar /

Um Tucunaré buiando aqui outro ali/

Jiju com Apaiari /

Pipilar solitário no alto do Buritizeiro,/

Depois um silêncio pioneiro/

Um sereno robusto a ninar/

Fazendo qualquer esquecer a vida urbana/

A viver umas horas no colo do paraíso/

Vozes aquele espaço ocupar/

Com risos, suspiros e uma paz aventureira/

Lá pelas cinco da matina/

Acauã começava a pipilar/

Avisando Maracanãs/

Que os tucanos iam passar/

O sol se estendia no horizonte/

Descerando a garoa da noite/

Pra avisar da chegada de um novo dia/

Açaí na mesa com peixe e farinha/

Uma viola apenas se mostrava/

Harmonizada com a batida do remo na água/

A dizer no refrão/

Que quando se pisava naquele chão/

Não havia hora marcada pra voltar/

Porque o sossego era tão eloquente/

Quanto a poesia na alma/

Que embalava o coração/