Poesia: 175 - Morte ideológica

Hoje eu matei um mosquito

Ele sugava meu sangue

Pensei, foi legítima defesa

Fique contente com o assassinato

Minha consciência não sentiu culpa

Afinal, o mosquito sugava meu sangue

Então é justo que eu me defenda do intruso

Legítima defesa, legitima defesa, que ideia genial!

De onde veio essa ideologia?

Que posso matar de forma legítima?!

Alguns diriam: "é natural, faz parte da vida"

Outros dirão: "é um direito humano"

Olhei para o mosquito assassinado em meu braço

Silenciosamente olhando àquele cadáver minúsculo

Me perguntei: e se ele tivesse a minha linguagem?

Também seria capaz de inventar esta ideologia?

Diria que estava me sugando em legítima defesa?!

Que seria legítimo sugar meu sangue em prol da vida?!

Um "direito natural", um "direito dos mosquitos"?!

Do cenário ideológicos da linguagem nascem as guerras

Um enxame de mosquitos soldados me atacam

Meu corpo é bombardeado por centenas de picadas

A guerra é, ideologicamente, entendida como justa

Centenas de soldados mosquitos kamikazes mortos

Meu corpo inteiro inchado das ferruadas insistentes

Um cessar fogo torna-se necessário de ambas as partes

Muitas baixas do lado dos mosquitos: jovens mosquitos

Meu corpo com coceira e dor das picadas está empolado

Acusações de um lado e de outro: ideologias sem fim

Ideias, linguagens, ideologias: a mãe de todas as guerras.

Wander Caires
Enviado por Wander Caires em 14/10/2023
Reeditado em 15/10/2023
Código do texto: T7908577
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