MALPROPÍCIO

Agora não dá mais tempo

de capinar o terreno,

delinear o canteiro

e de semear os freios

aos pés do desfiladeiro.

Em tudo mora o medo

disfarçado de silêncio.

Escorro entre as redes

e dissemino, do breu,

o seu degradê cinzento.

Estou atrás do poema,

sempre, e sem nem um tento,

esfumaçado no beco,

onde, num dado momento,

não sou mais aquele mesmo.

Um verso está chovendo

no sábado — eu o prendo

na geladeira das treze

e na contramão do vento

que juntou o nevoeiro.

Já fiz meu próprio enterro.

— Agora não dá mais tempo.