Poeta na linha do trem

Não há escapatória do tempo

Não há solução para minha voz

Deitado enquanto quero dormir

Irônico enquanto quero gritar

Não consigo

Não há Cristo nessas ruas

Não há descanso para o meu pânico

Não há solução para esses gatilhos

As armas não me esclarecem

Andanças de madrugada

Não me esclarecem

Não sou nenhum Buda iluminado

As pessoas só vão ler a manchete

E a gente vai ficar no passado

Perdidos entre o que eu esqueci

E o que me esforço para lembrar

Enquanto há tempo

Enquanto ainda há passeios na noite

E minha mente congela

Nossas silhuetas respiram

Como fantasmas que saíram de outro mundo

Eles vão nos ver transtornados

Como esqueletos maltrapilhos

Rindo e falando alto

No turbilhão de segundos

Que atravessamos, rasgamos ruas

Distraidamente…

Então ouço alguma voz

Nos sons e chiados da noite

Nas sombras assustam todo tipo de pareidolia

Um gato pulou do telhado

Há alguém sozinho parado na estação

Há alguém estranho no meu quarto

Além de mim, há um outro

Há um terceiro que vigia o meu destino

E a minha verdade

Que não me deixa sorrir enganado

Que me rouba as pistas dos caminhos falsos

Que me tira o chão da normalidade

E me deixa sem chão nenhum

Ele é duro e rígido

Eu sou móvel e flácido

É um anjo velho e pesado

Ele é forte e eu sou fraco

Ele está certo e eu estou quase desistindo

Ele brame e urge: "- De novo?!"

"Eli, Eli, Eli! Onde você está?!"

É um monstro ensandecido

A gritar contra meu olhar desassociado…

A guerra da natureza…

Ele é eterno e eu sou inevitável

Eli Jardel Alexandre
Enviado por Eli Jardel Alexandre em 24/10/2023
Código do texto: T7915884
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