Poeta na linha do trem
Não há escapatória do tempo
Não há solução para minha voz
Deitado enquanto quero dormir
Irônico enquanto quero gritar
Não consigo
Não há Cristo nessas ruas
Não há descanso para o meu pânico
Não há solução para esses gatilhos
As armas não me esclarecem
Andanças de madrugada
Não me esclarecem
Não sou nenhum Buda iluminado
As pessoas só vão ler a manchete
E a gente vai ficar no passado
Perdidos entre o que eu esqueci
E o que me esforço para lembrar
Enquanto há tempo
Enquanto ainda há passeios na noite
E minha mente congela
Nossas silhuetas respiram
Como fantasmas que saíram de outro mundo
Eles vão nos ver transtornados
Como esqueletos maltrapilhos
Rindo e falando alto
No turbilhão de segundos
Que atravessamos, rasgamos ruas
Distraidamente…
Então ouço alguma voz
Nos sons e chiados da noite
Nas sombras assustam todo tipo de pareidolia
Um gato pulou do telhado
Há alguém sozinho parado na estação
Há alguém estranho no meu quarto
Além de mim, há um outro
Há um terceiro que vigia o meu destino
E a minha verdade
Que não me deixa sorrir enganado
Que me rouba as pistas dos caminhos falsos
Que me tira o chão da normalidade
E me deixa sem chão nenhum
Ele é duro e rígido
Eu sou móvel e flácido
É um anjo velho e pesado
Ele é forte e eu sou fraco
Ele está certo e eu estou quase desistindo
Ele brame e urge: "- De novo?!"
"Eli, Eli, Eli! Onde você está?!"
É um monstro ensandecido
A gritar contra meu olhar desassociado…
A guerra da natureza…
Ele é eterno e eu sou inevitável