Escrevo

Escrevo porque necessito

porque o grito do não dito

dilacera minha carne

porque o cerne do meu ser é

vulcânico

água em fúria

coração e cabeça

urgência oceânica

fundação em fundição de lâmina-

língua-palavra-ardente-cortante

que sangra e cicatriza

na brisa que acarinha e queima

teima

inflama

Escrevo porque os silêncios só

são sagrados se

voluntários

e pelos ares

vão

vãos e portas

Escrevo porque a escrita não comporta

mas laceia

teia

fi_ando venho com os fios-herança

esperança-matéria

sobrevivente do sabido

e do que a memória bloqueia

veia

trilhos estreitos

pelos quais correm

vermelhos

todos os códigos seculares

celulares

sequenciados

conexões carne-analógicas

sequelas lógicas

mistérios evasivos

Escrevo porque cri

que criando

escapo das linhas

que rompem os trilhos

Escrevo porque não o faço sozinha

porque me visitam as minhas

porque dizem por mim e comigo

Escrevo porque aceito que o verdadeiro sentido

é cabaça que se alcança, mas não se conta

Escrevo porque palavra é amor-ogó que me aponta

o rumo

porque ajusta a espinha

é fio de prumo

porque bruxa e alquimista,

é humo

porque no viver-marcada

na escalada

é sumo

e no viver-mercado

escrever é fardo

e é numo.

Elen Rodrigues
Enviado por Elen Rodrigues em 18/11/2023
Código do texto: T7934794
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