Viagem sem destino

Acordada e perdida em pensamentos

Madrugada é o momento

Das lembranças fazerem revoadas

Das memórias apagadas

Dos túmulos serem levantadas

E nesse alvoroço

O olhar fica exposto

Fixo no invisível

Vendo o que ninguém vê

Em uma viagem ao próprio interior

Visitando velhas tumbas repletas de dor

E por ser assim sensível

O olhar ao invisível

Se vê umedecido

Cada reencontro traz consigo alguma morte

E o olhar viajante

Vai ficando cada vez mais estremecido

Em algumas sepulturas até encontra flores

Pequenas singelezas que o feio enfeita

Durante essa viagem o corpo trêmulo fica

Não por sentir frio

Mas por sentir frio nessa vida

De repente a luz invade

O olhar a si retorna

E olhando para fora

Vê a vida reiniciando

Em um baile rotineiro

Onde mudam alguns parceiros

Mas nada paralisa

Assim o olhar acompanha

De cada um a sua dança

Enquanto nos verdes galhos das árvores

As aves acordam e cantam

Voam de galho em galho

Até que os fios alcançam

Enquanto a madrugada

Se despede deixando outras lembranças

A respiração se faz profunda

Como se buscasse fôlego para vida

E tira da simplicidade

Razão para crer

Se tudo reinicia, não na totalidade igualado

Por que o que a inunda

Não possa ser reiniciado

A fazendo assim viver

Como os pássaros nos galhos?

O olhar que antes via

O que ninguém o podia

Agora se volta para olhar

O real que aqui está

Fazendo no tempo de agora

Uma rápida vasculhada

Trazendo à memória

As obrigações desse agora

E o que no tempo foi enterrado

E nas madrugadas velado

É com a luz deixado

Dentro do peito guardado

Em cada profunda respiração

Uma tentativa de fortalecer

E assim o corpo erguer

Momento de despedida

Momento de seguir a vida

Vestir a antiga fantasia

E participar do baile da vida

Uma máscara no rosto

Um traje que não deixa nada exposto

Nos pés calçado macio

Sem qualquer brilho

E assim, aos poucos

A vida realiza

Não o que o olhar visita

Mas o que real à ela organiza

A janela se fecha

A porta se abre

O coração fica

O corpo sai

Atrás dele a porta se fecha

A frente a vida se revela

Em passos sem pressa

O corpo carrega

A dor que nele

Entranha na pele

Ganha ele a rua

Outros tantos como ele

Vão apenas passando

Sem que se percebam

São só corpos sem donos

Cada um com suas memórias

Construídas por suas histórias

Seguem apenas nesse agora

E quando a luz sucumbir

E a noite voltar a invadir

A madrugada será retomada

Onde haverá o encontro com o nada

Gabriela S V
Enviado por Gabriela S V em 24/11/2023
Código do texto: T7939010
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